sexta-feira, 25 de abril de 2014

PRETEXTO

Por: Pericles Gomes


Ando com o coração um tanto inquieto, ou melhor, desassossegado. Com palavras não consigo explicar os motivos de tamanha comichão. Este frenesi tem me causado uma verdadeira turbulência interior. Por mais que me esforce à encontrar respostas, não consigo me comprazer.

Então, já que percebi que não consigo, desisti.  Aonde essa desistência me levará eu não sei. Tentei defenestrar o que sinto e não consegui.

Escondo-me e resguardo-me no escaninho da minh'alma. Internalizo meus sentimentos e finjo à todos que eles não existem. Nunca existiu e jamais existiram. E acabo sempre externalizando risos tímidos, fingidos e disfarçados. E valho-me da máxima de Fernando Pessoa: "o poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente".

O meu cantor favorito Renato Russo, afirmou que "já estava cheio de se sentir vazio". E o poeta Manoel de Barros reverbera com ele ao escrever: "a mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos". Recorro-me a ambos neste momento provavelmente pelo estado em que minha alma e meu coração se encontram... Cheio de se sentirem vazios. E tendo o infinito inteiro para poder preenche-los.

Mas duma coisa é certa: não fujo do quero e sinto. (Mas, confesso que não é fácil querer o quero e nem sentir o que sinto).

Mas sinto e quero!

Sinto a poesia na manhã fria e cinzenta, sinto alegria no que penso, no cantar logo cedo das aves, naquilo que ainda não escrevi por medo, no calor escaldante do sol à pino, na oração matinal onde rogo a Deus e das noites longas em que viajo nos meus sonhos.

Não compreendo como isso pôde acontecer. Nem gosto do tal destino, prefiro a explicação do Manoel de Barros: "meu fado é de não entender quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades". E isto me basta.

sexta-feira, 21 de março de 2014

ESCREVER CURA A ALMA

Por: Pericles Gomes

Parti. Mas parece que ainda não. A saudade é colossal, as lembranças são atormentadoras. Não pensei que fosse tão difícil, quanto está sendo. Sempre estive perto das pessoas que amam e agora distante até demais.

Quando é manhãzinha, lembro-me dos gritos e choro matinal de Aghata Cecília, hoje eles me soam como música... vento no litoral da Legião Urbana. Às tardes, Leandro Bahiah chegava lá em casa e sempre, isso mesmo... Sempre me encontrava no computador lendo ou escrevendo algo (na maioria das vezes insignificâncias). Ou se não, estava no Face. No fim da tarde partia correndo pro campo, pra famoso baba das 16:30 horas, que sempre começa às 17:00 horas. E por fim, à noite lá estava eu na casa de Cabeça ou então na casa de Thaylana "batendo papo e tomando café". Madrugada chegava, eu acessava mais um pouco, assistia os dois e as vezes os três talk's show ( Programa do Jô, Agora é Tarde e The Noite) e depois ia dormir. No dia seguinte a minha rotina se repetia (quase que sacramentalmente).

Quantas vezes esbravejei, briguei comigo e disse que não aguentava mais aquela  monotonia. Estava cansado daquela mesmice. Pois é. No entanto hoje sinto falta de tudo aquilo. E ainda tenho a coragem de admitir: "eu era feliz e nem sabia". Porque tinha ao meu lado quase todas as pessoas que amo.

Hoje levanto necessariamente às 06:00 da manhã e durmo às 22:000. Não estou reclamando e nem triste por isso. Mas confesso que a primeira vista foi assustador. Não sabia o que fazer, estava me sentindo uma "barata tonta". Pior mesmo foi à noite. Não conseguia dormir, virava dum lado pro outro do colchão e nada...

Então de repente me veio uma luz... tenho certeza que foi Deus. Um caderno na estante e ao lado uma caneta esferográfica azul. Era Deus me dizendo: "escreva meu filho, escreva". Assim o fiz.

Com um caderno, uma caneta, a saudade e a solidão, não deu outra. As palavras começaram a surgir freneticamente. As poesias saiam sem que eu fizesse muito esforço.

Foi então que depreendi: "o melhor remédio contra a saudade e a solidão e a tristeza é escrever". Agora quando a tristeza teimar e resolver me atormentar... simplesmente escreverei. Escreverei pra mim, escreverei não sei o quê. Mas escreverei. Pois escrever cura a alma da gente.

segunda-feira, 10 de março de 2014

A DOR DAS DESPEDIDAS

 Por: Pericles Gomes

Ainda não me acostumei com despedidas. São sempre doídas. Finjo que entendo os motivos que levam alguns amigos a partirem. Mas meu coração afetuoso, não compreendi de jeito nenhum. Vivo sempre tensionado entre a razão e a coração. E confesso para vocês que em mim tudo é coração e nada razão.

Perdi as contas de quantos vezes precisei chorar pela partida de tantos amigos/irmãos. As consternações são diluídas, quando aparecem os motivos, as explicações. (Mas mesmo assim a dor continua lancinante). Normalmente eles (os motivos) são parecidíssimos, para não dizer iguais.

É a falta de emprego, a falta de acesso a Educação (faço questão de de colocar educação com E, maiúsculo), as oportunidades que não surgem, uns poucos usurpando nossa Ibitupã sem que nada possamos fazer... E por ai vai.

Somente este ano é incontável o número dos que se foram. E ainda outros tantos já estão com as malas arrumadas, e muito em breve partem. Partem levando consigo a dor. Todos os que se foram e todos que ainda irão, são unânimes em dizer que foram ou vão, mas se pudessem ficariam.

Só na semana passada dois se foram, Arthur e Ian. O abatimento estava estampando no rosto dos meninos. Deles e de seus amigos. Sofre quem parti e sofre quem fica. O desgosto era eminente. As lágrimas não cessavam, a tristeza era notória. Eles se foram prometendo que muito em breve voltariam. 

A esperança de voltar, sempre é maior que a dor da partida.

Quantos outros ainda terão que partir? Quantas lágrimas ainda caíram, para que este êxodo se acabe ou pelo menos diminua? Preparamos a mão de obra e qualificamo-la (para construir a tão desejada Ibitupã) e entregamos de graça (o que é pior) para os grandes centros. 

Termino perguntando: Quantos outros Ians e Arthurs precisaremos perder, para quê a gente comece a se importar com isso?

Sinceramente torço, para que isso acontece com maior brevidade possível. Caso contrário, estaremos fadamos ao fracasso. E ao invés de mãe, Ibitupã se torne ainda mais uma madrasta cruenta e pouco interessada com seus filhos.





segunda-feira, 3 de março de 2014

QUE DIREI EU DE MIM MESMO?

Por: Pericles Gomes

Começo a difícil missão de responder este autoquestionamento, recordei o que durante muito tempo tentei ser. E recordar  segundo o Rubem Alves é uma "palavra bonita, que quer dizer visitar de novo aquilo que o coração guardou"

Fiz da minha alma um relicário onde ficaram escondidos retalhos de tudo o que não consegui ser. Alguém pode pensar que por conta disto alguma depressão se apoderou de mim. Respondo, sem ser perguntado que não. Aconteceu justamente o contrário. Depois de muitas tentativas, depreendi que a minha busca era lunática, retrógrada e sem fim. E descobri ao final,  que sou apenas retalhos de tudo aquilo que ainda não escrevi. Uma poesia inacabada de Leandro Bahiah.

Como uma menina mimada chorei, fiz birra e desejei colo. Oportunista que fui,  pedi aos amores que tive na vida, tal como o Mário Quintana pediu: "Se tiver de me esquecer, me esqueça... Mas bem devagarinho.". Alguns confesso que não atenderam ao meu pedido. Mas pior mesmo mesmo foram aqueles que nem aconteceram. Tive muito amor negligenciado. Daí eu escrever a um bom tempo atrás que: "a negligência do amor é o pior de todos os venenos". Quem experimentou sabe do que estou falando.

Travei bravatas  contra os meus instintos e perdi incontáveis vezes. Disse não quando a resposta deveria ter sido sim. E sim quando deveria ser não. Me autoflagelei e por vezes me privei de pedir perdão. Perdão pela minha ingenuidade, que descobri a pouco tempo ser congênita. Portanto, sem possibilidade de reversão. Quem sabe amanhã, eu consiga pedir clemência ao Criador. Ontem mesmo farei isso.

Indubitavelmente pereço por ser quem sou...eu mesmo. E careço ainda mais de ser quem eu sou... eu mesmo. Esta celeuma causada pelo meu padecer e pelo meu carecer é o que me faz ser quem eu sou afinal... eu mesmo. Complicado entender sem nenhuma dúvida. Volta e meia faço permuta comigo mesmo. O que dificulta ainda mais a compreensão. Não que eu queira ser compreendido. Vislumbro a rejeição. Eis aí a formula para me entender: "antes me renuncie".

Da minha cercania não resta absolutamente nada que eu não conheça. Conheço-me e reconheço-me nas tardes sem inspiração/ nas noites de invernos/ e nos dia quentes de verão. No voou das borboletas/ na fadiga das formigas/ na morte das sementes/ e no aperto da mão inimiga...

Gosto de avesso, sou apaixonado pela contradição, me afeiçoei as coisas miúdas. Comecei a descobrir o céu no terreiro da minha casa. Repito junto com o Padre Fábio de Melo: "não se toca o céu se não tem os pés no chão".  

Concluo sem chegar a lugar algum. Dizendo muito, ainda não disse nada. Fico feliz por ser previsível, panfleto rua a fora... que ando a esmo. Perdido nos meus próprios passos. 

Vocifero a melhor definição que encontrei sobre mim e foi o grande Millôr Fernandes quem deixou escrito: "Eu sofro de mimfobia, eu tenho medo de mim mesmo e me enfrento todo dia". 


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

SOFRIMENTOS NOSSOS DE CADA DIA

Por: Pericles Gomes

Há um bom tempo a pedido de um amigo, já queria escrever sobre os sofrimentos que cada um de nós traz na alma e no coração. Nos últimos dias, isso se tornou uma necessidade para mim. Agora eis-me aqui.

Shakespeare afirmava de forma latente que "todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente". E neste caso o verbo sentir, nos remete aos cinco sentidos do corpo humano (Visão, audição, paladar, tato e olfato). Sem sombra de dúvidas, a dor é capaz de interferir de forma contumaz nos nossos sentidos. E o corpo acaba pagando pelas nossas decepções. Quer sejam elas: amorosas, familiares, profissionais, religiosos e etc. Quem nunca perdeu o apetite diante de um amor perdido, do time que perdeu o campeonato, da demissão no trabalho, com as brigas dos pais? 

As dores estão ai. E cada um tem as suas e não são poucas. Agora mesmo ela bate a porta e mesmo que você não abra... acredite. Ela irá entrar... sem pedir licença. Daí a necessidade de buscarmos remédios para aliviá-las temporariamente. 

Não existe uma forma mágica para que eles(as) (dores e sofrimentos) não recaiam sobre nós. Eles(as) virão como o ladrão, sem avisar. Sem marcar data, dia ou hora. A grande maioria tenta encontrar respostas na religião. Tolice. O próprio Cristo (sendo Ele Deus) sofreu, se decepcionou, foi traído e morto. Mas Jesus tinha (e tem), algo que não o fez desistir, e que tem faltado à maioria das pessoas. Ele sabia onde queria chegar. E quem sabe onde quer chegar... não se detém. Nunca. Continua sempre em frente, mantém o foco.

Acontece que hoje em dia, as pessoas tem algo que nominei de "fragilidade mórbida", qualquer vento contrário os derruba facilmente. Mas entendo também que para alguns é mais difícil que para outros. A psicologia explica melhor que eu sobre as limitações de cada um. Não ouso fazê-lo neste espaço.

Depois desse emaranhado de palavras soltas e frases com pouca contundência, me resta deixar um último conselho. Como minha literatura e pensamentos são muito frágeis e carente de agudeza, recorro ao que escreveu o poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade: "A dor é inevitável... o sofrimento é opcional". Portanto, segundo o poeta, você quem escolhe se quer sofrer ou não. 

Decida!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

CERTEZAS INCERTAS


Por: Pericles Gomes

A vulnerabilidade dos meus "inimigos" me causa espanto. É de uma pungência  inominável. Sem fim. Preferiria que eles estivessem no meu lugar. Juro.

Sonho em lutar contra guerreiros mais destemidos, mais seguros, mais fortes e menos frágil. Meu Pai me ensinou que não é muito legal "tirar doce da boca de criança".

Não quero dizer com isso que eles não me atinjam. Atingem sim. Mas o fazem sem querer. Eles erram, quando erram. E erram, quando acertam. Explico. Os meus algozes conseguem me atingir, não quando creem estar fazendo isso. É justamente o contrário. Quando eles tentam acertar ( e não conseguem) eles me ferem em cheio, sem nem saber ( contei o meu segredo).

Elaboro agora exercícios cognitivos para tentar recuperar-me dessa eterna peleja, entre a nossa necessidade contínua e a ajuda mantenedora dos afanadores bonzinhos.Não é muito inteligente pensar que é uma atividade de fácil solução.

Enquanto isso sigo com minha bravata particular contra mim mesmo.

Tem um ditado antigo que diz que: tem coisas que deveriam ser vendidas em feira livre, vergonha na cara é uma delas. E, é duro perceber que pouquíssimos compraram-na na bodega da esquina. Em tempos de usurpação e inversão de valores. Vergonha na cara é um produto muito desvalorizado no mercado. Pena para os que prezam pela moral e pela ética.


Agora não vale culpar o mundo, nem as outras pessoas. Dizendo que a vida é ruim por conta das más companhias. Antes é preciso afirmar que vida é ruim porque você é uma péssima companhia. Sabendo disso, não resta outra alternativa a não ser fazer o que propôs Alberto Caeiro no seu poema, Quem me dera:  
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas ...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.


Tudo isso faz parte das minhas certezas... incertas. Aliás como teólogo e (falso) poeta, aprendi que só tenho uma certeza: não tenho certeza nenhuma. No entanto, não ter certeza nenhuma, já uma certeza.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

CAMINHANDO

Por: Pericles Gomes 

Parti em busca de um rasgo novo, de um mandamento antigo. Não que eu queira agora já no meio do caminho, pegar o primeiro atalho que aparecer. É que não estou mais certo, de certas convicções. Sendo assim não resta outra alternativa, se não angariar novas esperanças e reviver sonhos adormecidos.

Fascinações pretéritas não me assombram, questiúnculas mal resolvidas, não mais se resolveram. Quero começar tudo de novo amanhã, na perspectiva de realizar ontem. Presente, passado, futuro não é tempo. São apenas nomes. E nomes podem ser trocados. Desafio a me provarem do contrário. Neste caso portanto troco meu futuro por você, meu passado para te ver e meu presente para te ter.

Como um bêbado na corda bamba da vida, sigo em frente sem saber ao certo, o resultado desta minha travessia. Caindo do despenhadeiro a morte me encontra. Contudo, se atravesso permaneço intacto,  apesar do risco acabrunhado.

Sem guia para me mostra o caminho, encontrei minha jornada. Quero está perto do cheiro das flores, dos cantos aves, da água de cachoeira, do velho fogão à lenha, dos meus amigos e dos meus amores. E cantar a aquela canção (Caminhos) do Raúl e do Paulo:

Você me pergunta
Aonde eu quero chegar
Se há tantos caminhos na vida
E pouca esperança no ar
E até a gaivota que voa
Já tem seu caminho no ar
O caminho do fogo é a água
O caminho do barco é o porto
O do sangue é o chicote
O caminho do reto é o torto
O caminho do bruxo é a nuvem
O da nuvem é o espaço
O da luz é o túnel
O caminho da fera é o laço
O caminho da mão é o punhal
O do santo é o deserto
O do carro é o sinal
O do errado é o certo
O caminho do verde é o cinzento
O do amor é o destino
O do cesto é o cento
O caminho do velho é o menino
O da água é a sede
O caminho do frio é o inverno
O do peixe é a rede
O do vil é o inferno
O caminho do risco é o sucesso
O do acaso é a sorte
O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!

"E você ainda me pergunta:
aonde é que eu quero chegar,
se há tantos caminhos na vida
e pouquíssima esperança no ar!
E até a gaivota que voa
já tem seu caminho no ar!"

O caminho do risco é o sucesso
O acaso é a sorte
O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!

Quero um final de tarde para tomar café com os amigos. Quero inspiração para escrever minhas poesias. Quero ter a quem amar e ser amado. E quero à alegria da criança que ganhou o brinquedo, da avó que ganhou um abraço do neto, do jovem que passou no vestibular e do torcedor que viu seu time ser campeão.